METAFÍSICA
A divisibilidade infinita
«Idea» dá «cousas». — A ideia de pedra divide‑se num número infinito — porque indefinido na realidade, e infinito na possibilidade — de pedras.
A pedra real, como pedra não é infinitamente divisível; é‑o apenas como matéria. Por isso a pedra é real, a matéria não é.
A única parte da matéria que é real é a ideia de matéria.
Temos, então, que o mundo real não é real?
Qual a conclusão? Possíveis:
(1) Que a ideia de pedra é real, e a pedra não.
(2) Que a pedra é real, e não a ideia dela; pois a pedra não é infinitamente divisível, mas a ideia de pedra é. Mas a ideia de pedra é infinitamente divisível não como ideia, mas como pedra; a pedra é in[finitamen]te divi[sível] não como pedra mas como matéria. Portanto o mundo das ideias é intermediário entre a Realidade e a Consciência. A sua existência não é real, é interpretativa.
Temos de um lado Realidade, do outro Consciência. Entre estes temos o Pensamento, forma da C[onsciênci]a e as ideias forma relacionada da Realidade.
O critério da Realidade é a indivisibilidade infinita; o da aparência a divisibilidade infinita, porque ser divisíveI é ser destrutível. Assim, na pedra o que é real é a pedra, e não a matéria, ilusão dos sentidos; na ideia de pedra o real é a ideia e não a pedra, porque a ideia de pedra divide‑se em um conjunto de pedras, mas não em um conjunto de ideias.
Consciência — Pensamento — Vida — Ideias — Realidade
Imaginação
onde o sujeito e o objecto se fundem.
1914? | Textos Filosóficos . Vol. I. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1968 (imp. 1993).
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